Em busca de inovação, o Bradesco começa a olhar para além dos limites da Cidade de Deus. Agronegócios, softwares de gestão e cupons de descontos são algumas das apostas do fundo de venture capital do banco, que investe em startups com forte viés tecnológico, brasileiras e estrangeiras, desde maio de 2017.
O Inovabra Ventures, como foi batizado, conta até agora com R$ 400 milhões em recursos do próprio banco e já representa 40% dos investimentos do Bradesco em private equity. Essa área gere ativos da ordem de R$ 1 bilhão. As atividades de interesse incluem big data, inteligência artificial, blockchain, plataformas digitais e marketplaces.
"Não precisa ser fintech para receber aporte. Estamos investindo em ecossistemas, como financeiro, agronegócio, e podemos entrar em outros, como educação e saúde", afirma o diretor-executivo Leandro Miranda, responsável pelo private equity e também pelas áreas de relações com investidores e corretoras.
Do total empenhado até agora, R$ 74 milhões já foram efetivamente desembolsados. O valor de investimento típico situa-se entre R$ 1 milhão e R$ 5 milhões por startup. No portfólio, estão companhias como a Agrosmart, que desenvolveu uma plataforma de automação e monitoramento de produção agrícola; a Cuponeria, de cupons digitais de descontos; e a MarketUP, de software de gestão.
Há ainda outras mais relacionadas a serviços bancários, casos da Semantix, que oferece produtos e serviços baseados em big data; e da R3, de software inspirado no blockchain, tecnologia de registro descentralizado de dados. "A startup pode ou não ser fornecedora do banco", explica Miranda.
De acordo com o executivo, a aposta em atividades tão diversas está alinhada com o ambiente de inovação que o Bradesco vem tentando abraçar. O fundo está ligado ao Inovabra, programa de apoio a startups e desenvolvimento de tecnologias da instituição financeira.
Também faz parte dessa estratégia a BIA, plataforma de atendimento virtual baseada na plataforma de inteligência artificial Watson, da IBM. Miranda diz que, nos próximos dias, os clientes do banco vão começar a fazer transações por meio da BIA, como transferências e pagamento de boletos. Até agora, a tecnologia estava restrita ao fornecimento de informações aos clientes.
"A BIA está saindo da fase informacional para a fase transacional. Até o fim do ano, ela também poderá fazer recomendação de serviços aos clientes", afirma. Mais de 1,4 milhão de clientes já interagiram com a BIA no WhatsApp, num total de operações de 23,2 milhões no primeiro semestre deste ano.
Dentro de casa, o Bradesco está adaptando suas plataformas ao modelo de open banking, com oferta de produtos de terceiros para seus clientes.
Nesse sentido, a Ágora, focada em investimentos, já começou a distribuir fundos de outras casas. A corretora também acaba de ser conectada ao Next, banco digital do Bradesco, que deve chegar perto de 2 milhões de clientes ativos em dezembro. "Automaticamente, o cliente Next será um cliente da Ágora", diz.
A ideia é, no futuro, conectar a Ágora também ao BAC Florida Investments (BFI), corretora do BAC Florida Bank, comprado pelo Bradesco em maio - a expectativa é que a aprovação de órgãos reguladores de ambos os países saia no primeiro trimestre de 2020. Com isso, investidores de alta renda brasileiros poderão ter acesso a ativos estrangeiros.
Com a transformação digital dentro e fora de casa, que reduz o fluxo de clientes nas agências e aumenta a eficiência, o Bradesco tem reduzido sua estrutura. Na semana passada, o banco lançou um programa de desligamentos voluntários (PDV) voltado a funcionários mais velhos e com mais tempo de casa. A instituição não divulgou metas, mas a abrangência deve ser um pouco menor que a do PDV de 2017, que teve cerca de 7,5 mil adesões e custo de R$ 2,3 bilhões.