Chegar a um preço justo no seguro saúde é uma operação complexa
A precificação dos seguros de saúde é cada vez mais complexa e implica em uma série de riscos. Estabelecer um valor justo, que atenda à legislação e à proteção do segurado, é um grande desafio para o setor. O tema foi debatido no 6º Encontro Nacional de Atuários, parte da programação da CONSEGURO 2019, o congresso bianual do mercado de seguros, realizado pela Confederação Nacional das Seguradores (CNseg), e encerrada ontem em Brasília.
“Não há seguro mais complexo em termos de precificação do que o seguro saúde”, afirmou o sócio-diretor da Maravilha Atuarial Consultoria, Paulo Ferreira. Segundo ele, “é necessário levar em consideração todas as limitações legais, técnicas e mercadológicas que envolvem o produto”, enumera.
Paulo Ferreira destacou a importância do uso da Inteligência Artificial e de projeções financeiras dinâmicas nesse processo de precificação. O que, segundo ele, inclui a projeção de todas as receitas e despesas, incluindo os aportes e retiradas de capital, fazendo com que o prêmio calculado zere o valor presente do fluxo, descontado pela taxa de desconto de risco (Risk Discount Rate).
Ele explica que “sem credibilidade estatística não há precificação justa”. Para isso, um número considerável de sinistros é levado em conta no processo de valoração, fazendo com que a probabilidade se aproxime da frequência observada na prática. Ferreira afirma que o modelo em que é usada a estimativa de indenizações “simplesmente pela média dos sinistros passados, leva, a longo prazo e certamente, à ruína da operadora”.
Novas Coberturas e Mercado
A diretora do Instituto Brasileiro de Atuária (IBA), Raquel Marimon, ressaltou que “temos que entender de quanto é a ampliação de cobertura que está sendo proposta” e, ao mesmo tempo, o impacto das novas coberturas e procedimentos determinados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). O maior desafio, segundo ela, é saber projetar o reajuste neste novo cenário.
O mercado de seguros de saúde é composto por um grande número de operadoras, cerca de 750, a grande maioria de pequeno porte. O número de planos em vigor registrados na ANS passa dos 16 mil.
Para Raquel Marimon, “o atuário precisa ir além e compreender melhor como os processos estão sendo desenvolvidos”. Segundo a diretora do IBA, entender a frequência e o custo é essencial para o profissional. Ela ressalta, ainda, a importância da Coordenação do Cuidado, que visa atender às necessidades e preferências dos usuários na oferta de cuidados em saúde, com elevado valor, qualidade e continuidade. “Nas operadoras que implantaram essa coordenação, a queda de sinistros foi significativa”, afirma.
Antonio Penteado Mendonça, Sócio do Penteado Mendonça e Char Advocacia, concluiu que é preciso haver um movimento de consolidação nesse mercado. Ele alertou sobre os riscos da autogestão: “Diante da enorme volatilidade desse setor, a melhor coisa que a autogestão pode fazer é deixar de ser autogestão e buscar uma seguradora”.
Sobre a CNseg
A Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg) congrega as empresas que compõem o setor, reunidas em suas quatro Federações (FenSeg, FenaPrevi, FenaSaúde e FenaCap). A missão primordial da CNseg é congregar as lideranças das Associadas, elaborar o planejamento estratégico do setor, colaborar para o aperfeiçoamento da regulação governamental, coordenar ações institucionais de debates, divulgação e educação securitária e representar as Associadas perante as autoridades públicas e entidades nacionais e internacionais do mercado de seguros.