A nova revolta da vacina
27/09/2019

Como a ideia de que a imunização faz mal ou é desnecessária está provocando a volta de doenças como o sarampo

É fim de tarde em Ubatuba, no Litoral Norte de São Paulo, e a família de Maximiliano Giacone, de 31 anos, joga futebol na praia. Os três filhos, de 8 anos, 6 anos e 2 anos e meio correm descalços na areia. A família é de origem argentina, mas mora no Brasil. As crianças comem comida saudável, se exercitam, dormem cedo, raramente usam medicação alopática. E não tomam vacinas. Giacone diz que não acredita na necessidade dessas imunizações. O filho mais velho e o mais novo não foram vacinados, e o do meio, seu enteado, tomou apenas a BCG, dada a recém-nascidos para prevenir a tuberculose. “A não vacinação vem com uma filosofia de vida. Meus filhos são saudáveis.

Utilizamos remédios alternativos, homeopatia, medicina por meio das plantas, raramente algo de farmácia”, contou Giacone, ex-proprietário de uma escola em Buenos Aires.

Recentemente, ele soube de casos de famílias que foram obrigadas pela Justiça a vacinar seus filhos. Uma vez, contou, ele e a mulher foram repreendidos por um médico que criticou a recusa de dar vacinas. “Já conversei com algumas pessoas e li a respeito da falta de necessidade de ir ao médico com frequência. Não lembro exatamente as fontes. Outras pessoas falam em epidemias. Pode ser. Mas me baseio no que vou encontrando na vida. Não falo para as pessoas vacinarem ou não vacinarem. Seguimos nossa verdade”, afirmou. Giacone disse ter consciência de que muitas de suas ações despertam reações e assombram outras pessoas. “As pessoas vão ao médico e esperam ouvir tudo que devem fazer. Somos educados assim. Mas gosto de ver como minhas crianças sabem que elas têm o poder de ficar doentes ou não. Que elas têm o poder de se curar. Não somos só o corpo físico”, disse. Giacone afirmou que não vai se opor se os filhos decidirem se vacinar quando crescerem. Ele foi vacinado quando criança. “Não vou dizer que está certo, mas acredito em levar a vida como cada um quiser”, completou.

Os membros do que se convencionou chamar de movimento antivacina têm motivações variadas e não conhecem fronteiras. A cerca de 2.300 quilômetros de Ubatuba, Gisleangela dos Santos, de Girau do Ponciano, município a quase três horas de Maceió, Alagoas, também faz restrições às campanhas de imunização. A cidade de cerca de 40 mil habitantes, que vive de agricultura e funcionalismo público, é descrita pela servidora de 37 anos como “quase o fim do mundo”. Mas a desinformação chegou até lá pela internet. Santos passou a duvidar das vacinas depois de assistir a um vídeo em que um suposto enfermeiro dizia que o vírus da zika não existia, e que a microcefalia era causada por uma vacina vencida dada pelo governo. Ela teve zika no início da segunda gestação, mas, quando a filha nasceu com microcefalia, não culpou o mosquito. Com base no vídeo, seu reflexo foi achar que a microcefalia tinha sido causada por uma vacina que tomou antes de engravidar. “Sempre via no YouTube, Facebook e também recebi no WhatsApp vídeos sobre vacinas. Quando começaram os casos de zika e microcefalia, teve um vídeo em que um homem que se dizia enfermeiro contava que tinha descoberto que o governo estava enganando o povo. Que a microcefalia não tinha nada a ver com a zika, mas com uma vacina vencida que tínhamos tomado. Fiquei com medo”, contou. Santos, a filha mais velha, de 14 anos, e a caçula, hoje com 3 anos, pararam de tomar vacina. Os pais de Santos também rejeitaram a campanha da vacina contra a gripe no ano passado. “Antes eu tomava vacina, gostava de deixar as vacinas de minhas filhas em dia. Quando vi isso, parei. E parei de dar para elas também”, disse. A família só retomou a vacinação por causa de um tratamento da caçula. “Levei minha filha menor para fazer um tratamento em uma cidade vizinha. Quando chegamos, a médica exigiu que todo mundo tomasse vacina. A pressão foi grande. Mas ainda fico com receio”, contou. Santos disse que um exame comprovou a zika durante a gravidez e que a doença afetou o bebê. Contou ainda que na cidade falta saneamento básico e sobram mosquitos e que muitas pessoas ali adoecem também com a dengue. Mas às vezes titubeia. “O vídeo falava na vacina vencida. Vivemos em um país tão corrupto que acabamos acreditando. Vejo mães que tiveram zika durante a gravidez e os filhos nasceram saudáveis. Por quê? Talvez meu caso tenha sido de imunidade. Muitas vezes nem os médicos sabem responder com certeza. E ainda tenho dúvidas.”

A vacina é uma suspensão que contém o vírus inativado ou morto de determinada doença que, introduzido no organismo, induz a formação de anticorpos. Não há evidência científica de que vacinas causem doenças ou contaminem o organismo. Pelo contrário. Graças às vacinas, especialistas em saúde dizem que foi possível erradicar no Brasil enfermidades sérias como coqueluche, rubéola, poliomielite e tétano. Ironicamente, ao tirar essas e outras doenças graves de vista, as campanhas de vacinação bem-sucedidas do passado criaram nas gerações seguintes a sensação de que as doenças desapareceram ou de que ao menos não são mais uma ameaça como eram outrora.

“Historicamente, a cultura da vacinação se impôs no Brasil pelo medo de doenças. Hoje, o medo é da vacina”, disse a antropóloga Marcia Couto, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). E o fenômeno é global.

Em relatório anual sobre os dez maiores riscos à saúde, a Organização Mundial da Saúde (OMS) incluiu em 2019 a “hesitação em se vacinar”. Ela figura na lista ao lado de vírus como os de ebola, HIV, dengue e influenza, segundo a OMS, “porque ameaça reverter o progresso feito no combate às doenças evitáveis por meio de vacinação”. Outro relatório recente da OMS indica que os casos de sarampo no mundo triplicaram neste ano. O número de casos globais notificados nos primeiros sete meses de 2019, mais de 360 mil, já é quase três vezes maior que o registrado no mesmo período de 2018. No Brasil, os dados mais recentes, divulgados em 13 de setembro e referentes aos 90 dias anteriores, somam 3.339 casos confirmados de sarampo em 16 estados. O surto maior é no estado de São Paulo, onde já foram registradas pelo menos três mortes em decorrência da doença. As vítimas foram um homem de 42 anos e dois bebês. Outra criança faleceu em Pernambuco. Em nenhum dos quatro casos, disse o Ministério da Saúde, foi comprovada a imunização contra o sarampo.

“GISLEANGELA DOS SANTOS É UMA DAS VÍTIMAS DA DESINFORMAÇÃO. ELA ACREDITOU QUE A MICROCEFALIA DA FILHA TINHA SIDO CAUSADA POR UMA VACINA VENCIDA. SUA FONTE FOI UM VÍDEO DE UMA REDE SOCIAL”

Segundo a OMS, a vacinação evita de 2 milhões a 3 milhões de mortes por ano — e outros 1,5 milhões poderiam ser evitadas se a cobertura global de vacinação melhorasse. Em nota a ÉPOCA, o órgão afirmou ter estudado as razões pelas quais as pessoas escolhem não se vacinar. “A OMS identificou complacência, inconveniência no acesso a vacinas e falta de confiança entre as principais razões subjacentes à hesitação”, disse o órgão, que completou: “A relutância ou a recusa em vacinar, apesar da disponibilidade de vacinas, ameaça reverter o progresso feito no combate a doenças evitáveis por vacinação”. A OMS afirmou ainda que neste ano vai intensificar esforços para eliminar o câncer do colo de útero no mundo, aumentando a cobertura da vacina contra o HPV. Espera-se também que 2019 seja o ano em que a transmissão do vírus da poliomielite seja interrompida no Afeganistão e no Paquistão.
A queda nas taxas de vacinação já é visível. E a baixa cobertura contribui para a introdução de doenças já eliminadas no Brasil, como aconteceu com o sarampo, que voltou e virou surto. O Ministério da Saúde atribuiu o problema à queda da vacinação. A tríplice viral, que protege contra sarampo, rubéola e caxumba, encerrou o ano passado com taxa de vacinação de 90,5% do público-alvo, menos do que os 95% recomendados pelas autoridades de saúde. Não é o único caso. Segundo o Ministério da Saúde, todas as vacinas destinadas a crianças menores de 2 anos têm registrado queda desde 2011, com maior redução a partir de 2016. Um balanço mostra que, de oito vacinas obrigatórias para crianças no calendário nacional de imunizações, sete delas encerraram o ano passado com a taxa de cobertura abaixo da meta. Apenas a vacina BCG alcançou o nível desejado.

A única vacina que a dona de casa Sueli Maximiliano, de São Paulo, tomou foi justamente a BCG, quando criança. Na vida adulta, ela continuou sem imunizações. Aos 48 anos, disse desconfiar da composição das doses e rejeita campanhas de vacinação em massa. “Fui criada por minha avó, que não me vacinava. Depois que cresci, senti que não me fazia falta. Aí decidi continuar sem vacinas nem remédios”, disse. Ela contou que vacinou a filha, hoje com 23 anos, só por insistência do marido. Mas afirmou que tem “a saúde melhor” do que a filha e que não vê necessidade de vacinas, pois nunca precisou de medicação nem internação. “Não gosto da ideia de o governo ditar algo e a população seguir em peso. Para mim, é uma forma de manipulação. E ter algo injetado no corpo é muito invasivo. Só não falo nem ensino isso para ninguém. É uma decisão pessoal”, completou.

A ideia da imunização como questão individual de opinião está no centro do debate sobre a queda na vacinação no país. Quem não se vacina pode se manter saudável, dependendo do rumo que a vida tomar. Mas especialistas alertam que, se essa pessoa entrar em contato com o vírus e adoecer, pela falta de imunização, existe, além do risco pessoal, o perigo de contágio de outras pessoas que não tomaram a vacina por contraindicação. “Existe uma função coletiva da vacina que é proteger diretamente aquela pessoa que não foi vacinada porque não pode. É o caso de grávidas, bebês que ainda não alcançaram a idade indicada, pessoas imunodeprimidas, em tratamento contra o câncer etc. Quando a cobertura contra o vírus começa a cair em uma população, a proteção cai junto. Vacinar é também um pacto social”, explicou a médica pediatra Carolina Barbieri, docente da Universidade Católica de Santos. A antropóloga Marcia Couto completou: “Embora a cultura da vacinação persista no país, ao longo do tempo acostumou-se a responsabilizar as famílias pela vacinação, ou assim parecia ser. É como se a vacinação fosse um ato individual, quando na verdade é um projeto de saúde pública”.

Barbieri e Couto acompanharam famílias em São Paulo para entender como elas lidavam com as vacinas no contexto de cuidado dos filhos. A hesitação à vacina é visível principalmente nas famílias de centros urbanos e com renda e escolaridade médias e altas. “Se antes o problema das vacinas era a dificuldade de acesso, hoje é a falta de confiança. O primeiro fator citado entre as famílias que não vacinavam ou escolhiam as vacinas foi que não viam mais as doenças como na época dos pais ou avós. Mas destacavam os efeitos adversos da vacina. O caso de febre, de reação, aparecia mais”, disse Barbieri. Os pais entrevistados na pesquisa também citaram desconfiança sobre a ação das vacinas no sistema imunológico das crianças. São frequentes as críticas a uma “medicalização” no cuidado infantil.

“FAMÍLIAS COM RENDA ALTA ESTÃO ENTRE AS QUE HESITAM EM VACINAR OS FILHOS, SEGUNDO UMA PESQUISA EM SÃO PAULO. PODE PARECER CONTRADITÓRIO, MAS O SUCESSO DE IMUNIZAÇÕES NO PASSADO DIMINUIU O MEDO DE FICAR DOENTE”

A psicoterapeuta Mariah (ela prefere preservar a identidade), de 30 anos, mãe de um menino de 3 anos e meio, vacinou o filho apenas até os 2 meses, pois precisou fazer uma viagem internacional com ele recém-nascido. “Acredito que haja estudos científicos que, de fato, comprovem algumas vacinas como necessárias. Mas acredito que a grande maioria não tenha de ser aplicada. Algo que sempre me incomodou, ao perceber muitas crianças vacinadas a meu redor, era que elas estavam sempre gripadas ou desenvolvendo algum tipo de doença”, contou. Mariah disse que assumiu essa postura “por feeling e observação”. Explicou que criou uma rotina de cuidados para fortalecer o sistema imunológico do filho. “Não acredito na ausência de vacinação se a criança for criada de forma ‘solta’ e com a alimentação ‘padrão’”, afirmou. “Ele não se alimenta de laticínios com frequência, que provocam mucos e aumentam catarro e inflamações, nem carne, que exige energia demais do corpo para ser digerida, e invisto em orgânicos e produtos locais. Também me mudei para a praia, onde ele corre, toma sol todo dia, tem contato com a natureza, anda descalço e lida com diferentes ambientes e bactérias, que pouco a pouco fortalecem seu sistema.” Ela contou ser bastante criticada por essa posição. “Até as vacinas que penso em dar eu evito falar, para não ter de lidar com as enfermeiras que fazem um escândalo se nego alguma vacina. Porém, olho para meu filho de 3 anos e meio e vejo uma criança saudável, inteligente e que nunca teve uma doença séria. O máximo que teve foi uma laringite em época de frio, mas que também acompanhou o câncer de laringe de meu pai e que entendi como psicossomática.” Mariah admite que sua realidade é diferente da maioria das famílias. “Muitos não podem oferecer a alimentação e os cuidados que ofereço, então entendo que saúde é uma questão de consciência e informação, além de todas as medidas socioculturais e políticas que promovam o bem-estar integral da população”, afirmou.

Não é simples explicar todos os motivos de resistências às vacinas. Se, há mais de 100 anos, na chamada Revolta da Vacina, centenas de pessoas protestaram nas ruas do Rio de Janeiro contra a lei que obrigava a imunização contra a varíola, em um projeto de saneamento liderado pelo então prefeito Pereira Passos e pelo sanitarista Oswaldo Cruz, hoje o movimento é puxado de maneira discreta. Veio por influência do exterior, de países como Estados Unidos e Itália, onde há grupos organizados contrários à vacinação. Em maio, em Sacramento, na Califórnia, várias mães protestaram contra uma lei que fecharia uma brecha que permitia a alguns pais evitar as exigências das vacinas, desde que tivessem um atestado de que suas crianças não poderiam ser vacinadas por questões médicas. O milionário Bernard Selz, gestor de um fundo de investimentos em Nova York, doou mais de US$ 3 milhões nos últimos anos para grupos que espalham a ideia de que as imunizações são perigosas. Nos EUA, não por coincidência, casos de sarampo voltaram a aumentar. Na Itália, o movimento ganhou aliados na política. Massimiliano Fedriga, político do partido Liga Norte, virou o maior porta-voz do movimento antivacina no país. Em março, porém, teve de se afastar de suas atividades. Pegou catapora.

Aqui, ocorre o novo e complexo “movimento de hesitação à vacina”. Ele inclui pais que atrasam o início da vacinação acreditando que mais tarde o sistema imunológico dos filhos estará mais desenvolvido e preparado para receber as vacinas, pais que selecionam quais vacinas aplicar, aqueles que dão apenas uma das doses previstas no calendário nacional ou só uma vacina por vez e, finalmente, os pais que não dão vacina alguma. As justificativas são parecidas aqui e lá fora. Vão da ausência dos surtos do passado, que motivaram a vacinação, à desconfiança em relação à composição das doses e à rejeição às gigantes farmacêuticas, além de religiosidade, da divulgação de informações falsas no universo sem lei da internet e das redes sociais e da negação da ciência. Muitas das informações em que os pais se baseiam vêm do exterior, onde o movimento de resistência à vacina está mais consolidado. A expansão da internet facilitou a difusão. Por aqui, o debate acontece em grupos de redes sociais e também em canais como o YouTube, onde pessoas que se apresentam como médicos questionam a necessidade de algumas vacinas para crianças. A enxurrada de informações causa confusão entre as famílias, principalmente em um momento delicado como o da maternidade/paternidade.

Em julho, o deputado Diego Garcia (Podemos-PR), relator da Comissão de Educação da Câmara dos Deputados, foi contrário a um projeto de lei do deputado Luciano Ducci (PSB-PR) que propôs a obrigatoriedade de apresentação da carteirinha de vacinação de crianças de até 9 anos para a matrícula em escolas públicas e privadas. “Há pais que não imunizam seus filhos por convicções religiosas, outros por não acreditarem na eficácia da imunização, estes, inclusive, com respaldo de algumas correntes médicas, e outros ainda por causa das várias denúncias acerca de contaminação no processo de fabricação das vacinas e em sua má conservação, o que acarretaria sérios riscos para a saúde das crianças”, afirmou Garcia na ocasião. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), sancionado em 1990, estabelece que a vacinação das crianças é obrigatória nos casos recomendados pelas autoridades sanitárias. O descumprimento pode acarretar desde infração administrativa, com multa de três a 20 salários mínimos, até detenção de dois meses a mais de dez anos. “A falta de vacinação pode ser qualificada como crime de maus-tratos”, explicou Paulo Roberto Fadigas César, juiz titular da Vara da Infância e da Juventude de Penha de França, na Zona Leste de São Paulo. Geralmente, são as escolas e unidades básicas de saúde que comunicam o Conselho Tutelar e daí uma denúncia é encaminhada à Justiça. “A família pode ser intimada a vacinar a criança. A obrigatoriedade está prevista em lei. E a recusa pode levar, em alguns casos, à perda de guarda ou perda do poder familiar. Não são casos frequentes, mas podem acontecer, de acordo com a avaliação de cada caso”, disse o juiz, que afirmou perceber um aumento de denúncias envolvendo a falta de vacinação.

A hesitação às vacinas tem um marco internacional: fevereiro de 1998, quando o médico britânico Andrew Wakefield apresentou uma pesquisa na qual afirmava que 12 crianças tinham desenvolvido comportamento autista e inflamação intestinal grave depois de serem vacinadas. Elas teriam, segundo ele, vestígios do vírus do sarampo no corpo. Wakefield levantou uma possível associação dos problemas com a vacina tríplice viral, que protege contra sarampo, rubéola e caxumba e que havia sido aplicada em 12 crianças acompanhadas por ele. Wakefield escreveu que as vacinas poderiam causar os problemas gastrointestinais, que, por sua vez, levariam a uma inflamação no cérebro e, daí, talvez ao autismo. O estudo foi publicado na conceituada revista Lancet com grande repercussão, e os índices de vacinação despencaram no Reino Unido. Anos depois, Wakefield foi desmascarado e seu diploma foi cassado. Um médico que o auxiliou na pesquisa revelou que não havia encontrado o vírus do sarampo em nenhuma das 12 crianças estudadas, mas que Wakefield teria ignorado o fato para não comprometer a divulgação do estudo.

Além disso, veio à tona que, antes da publicação na Lancet , Wakefield tinha registrado um pedido de patente para uma vacina contra sarampo, que seria concorrente da criticada por ele. Mesmo assim, as correntes antivacina existentes se fortaleceram, e o pânico se estendeu a outros países.

Nos EUA, o alvo de desconfiança foi o timerosal, uma substância derivada do mercúrio e usada como conservante antibacteriano em frascos multidoses de vacinas. Há alguns anos, surgiram teorias que vinculavam o timerosal ao autismo, o que foi descartado tempos depois. A substância chegou a ser tirada da composição de vacinas em países da Europa e nos EUA, mas casos de autismo não deixaram de surgir por causa disso. No Brasil, a substância é usada nas vacinas em quantidade regulamentada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa, nos frascos que contêm mais de uma dose. Autoridades de saúde afirmam que a dosagem é mínima e segura.

Outro ponto de debate sobre as vacinas é se elas estariam relacionadas ao desenvolvimento de alergias e doenças autoimunes. Pesquisas sobre o tema não comprovam relação direta entre elas. A ressalva para a vacinação é em caso de alergias já conhecidas. Pessoas com alergia comprovada a ovo, por exemplo, não são aconselhadas a tomar vacinas em que o vírus é replicado em ovos, como é o caso da imunização contra a gripe. Mas casos de uma nova alergia a partir de uma vacina não foram evidenciados pela ciência. Algumas vacinas podem, sim, causar reações como febre e, em casos raríssimos, reações graves, mas especialistas consideram que o benefício em termos de saúde pública é muito maior. “Cada país tem seu sistema de farmacovigilância. Em nosso caso, é a Anvisa. Todas as vacinas passam por um monitoramento rígido de qualidade, potência e efeitos adversos. Se há qualquer problema, o produto é interrompido. Foi assim com a vacina pentavalente, que monitoramos”, afirmou o médico Júlio Croda, diretor do Departamento de Imunizações e Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde. Em julho, cinco lotes da vacina pentavalente produzidos por uma empresa indiana foram proibidos pela Anvisa de circular devido a “resultados insatisfatórios no ensaio de aspecto”. A agência afirmou, na época, ter encontrado problemas na análise que verifica cor, odor e características da embalagem de um produto. A importação e o uso dos lotes dessa empresa foram suspensos. “É um equívoco dizer que o controle de qualidade é burlado pelo sistema. Teorias de conspiração não têm justificativa. A vacina é a medida mais custo-efetiva na medicina. Previne adoecimento e óbito e é a prova de um Estado que garante o acesso universal da população à saúde”, afirmou Croda. Essa é a mensagem que o movimento antivacina se nega a ouvir.

 

Fonte: Época




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