O objetivo do Labi Exames é atrair clientes entre os 160 milhões de brasileiros que não têm um plano de saúde e que precisam recorrer a exames privados ou ao Sistema Único de Saúde. Com nove unidades, a rede Labi realiza cerca de 700 tipos de exame laboratorial por preços camaradas: um hemograma custa a partir de 10 reais. São feitos 40 mil exames todos os meses, com um tíquete médio de 120 reais por paciente. Os exames são vendidos em pacotes, como o de detecção de diabetes ou de HIV, ou check-ups para vegetarianos.
Os resultados são apresentados em gráficos simples e, no caso de alterações, um médico liga para o paciente sugerindo o agendamento de uma consulta, que não é oferecida pela companhia. O Labi se posiciona, dessa forma, como um elo a mais numa cadeia de saúde popular que vem se formando no Brasil, com redes que oferecem consultas médicas também por preços convidativos, como Dr. Consulta e Clínica Fares. É parte de uma transformação no mercado brasileiro: já são 406 startups de saúde no Brasil, ante 235 em 2015.
O Labi consegue cortar preços com um serviço enxuto, sem pequenos luxos, como manobrista ou cafés especiais. As unidades são pequenas, sem estacionamento, com mobiliário simples e poucos funcionários. A empresa não oferece exames de imagem, que exigem equipamentos caros. Também economiza ao digitalizar parte do processo, como o agendamento de exames feito pela internet. Os materiais são recolhidos nas unidades do Labi e enviados ao laboratório da Cerba, empresa espanhola que atende também outras redes no Brasil. A Cerba determina as especificações para a coleta dos materiais e depois é responsável pela logística de retirada e análise técnica.
De cerca de 19 mil subordinados na Dasa, Barboza passou a liderar uma equipe de apenas 70. A remuneração também mudou, assim como a rotina, antes abarrotada de reuniões pré-agendadas. “Agora preciso de mais proatividade”, diz ele. A experiência como gestor de grandes empresas fez Barboza decidir por uma estratégia pouco comum às startups: o Labi precisa ter lucro na largada, e não apenas esperar um futuro distante. As duas primeiras unidades abertas em São Paulo já se sustentam.
Mas a velocidade de expansão segue a lógica das startups. O Labi planeja chegar a 16 unidades no final do ano. A ordem é triplicar de tamanho a cada 18 meses. As duas primeiras unidades foram abertas com capital próprio, mas de lá para cá já houve três rodadas com investidores individuais. Agora, para acelerar a expansão, a empresa busca um investidor institucional e deve chegar a 31 milhões de reais em aportes neste ano.
O Labi é exemplo de uma tendência de amadurecimento do mercado de startups. De acordo com a Associação Brasileira de Startups, entre os empreendedores o maior grupo é o de 30 a 35 anos, representando quase 29% do total. Os de 35 a 40 anos vêm a seguir: são quase 25%. Enquanto isso, os mais novos, de 20 a 25 anos, somam apenas 6%. Entre as companhias do portfólio da aceleradora de startups ACE, a média de idade dos fundadores passou de 27 para 31 anos nos últimos dois anos.
“Os casos de sucesso contribuíram para que mais pessoas enxergassem o empreendedorismo como uma nova trilha de carreira”, afirma Arthur Garutti, sócio da aceleradora ACE. Outro executivo a trocar um grande cargo pelo empreendedorismo é Diego Dzodan, ex-vice-presidente do Facebook na América Latina. Com 49 anos de idade, ele criou em 2018 o site de compras coletivas Facily. “Numa empresa menor consigo dedicar mais tempo a ouvir as dores dos clientes”, diz Dzodan.
Outro atrativo para os fundadores é a chance de crescer rapidamente e transformar mercados, mudando o jogo até para as grandes empresas em que atuavam até então. Para Dzodan e Barboza, é o tipo de emoção que compensa o risco do recomeço.