O valor do sistema suplementar de saúde para o usuário
01/10/2019

“Deve-se investir mais em educação e comunicação para mudança de hábitos e comportamentos”
A saúde suplementar é responsável anualmente por mais de um bilhão de consultas, exames, procedimentos, internações e outras ações de saúde, para seus mais de 47 milhões de usuários. Mesmo assim, o setor ainda sofre questionamentos, inclusive com uma judicialização excessiva.

O cuidado com a saúde de seus usuários ainda é fragmentado, com predomínio de intervenções pontuais de enfermidades agudas e precisa se estruturar para fazer o acompanhamento do usuário em linhas de cuidado integrado e continuado, mais indicado quando há prevalência crescente de doenças crônicas em uma população que envelhece.

Tem sido crescente a utilização de serviços de atenção primária como porta de entrada do atendimento. Para serem efetivos, precisam estar integrados às demais especialidades e estruturas de saúde.

Há de se avançar nas ações de prevenção para os portadores de risco e de patologia, nas de promoção da saúde e na conscientização do usuário em relação à utilização correta dos recursos de saúde. Para tanto, deve-se investir mais em educação e comunicação para mudança de hábitos e comportamentos alinhados com uma vida saudável, além de se organizar as informações e o histórico de saúde em prontuários eletrônicos de propriedade de cada cidadão.

Já quando os idosos precisam arcar com suas próprias mensalidades, com algumas exceções, continuam a ser expulsos do setor pelo aumento de preços e reajustes. Uma alternativa, segundo especialistas, é a que combina o sistema de capitalização com o de mutualismo, que é o modelo de financiamento utilizado atualmente, com rateio do custo por faixa etária. No sistema de capitalização, uma parte do que o indivíduo paga ao plano de saúde durante sua vida ativa é poupado e o recurso é utilizado para ajudar a custeá-lo, após sua aposentadoria.

A boa notícia é que novos modelos de remuneração têm sido crescentemente adotados por operadoras de saúde, hospitais e serviços médicos, quer via pagamentos globais ou por pacotes, bandas ou, mais recentemente, atrelados ao desfecho clínico e à qualidade do resultado produzido para o paciente. O objetivo é diminuir a participação do modelo chamado fee for service (cobrança por procedimento), que ainda predomina e remunera serviços com base nos itens consumidos como materiais, medicamentos, exames e procedimentos médicos. Nesse caso, o consumo é estimulado, e ser custo-efetivo é contraproducente.

A má notícia é que a contenção do aumento de custos e da inflação médica, que é repassada a usuários e patrocinadores via reajustes dos planos, permanece ano após ano em patamares muito elevados.

Para alcançar melhores resultados, além de atuar nas frentes já citadas, é preciso implementar medidas estruturantes que estejam alinhadas com o propósito do setor, que é o de gerar mais saúde e valor para seus usuários, principalmente se considerarmos que os recursos são finitos e os custos, crescentes.

Ter assegurado o acesso inicial ao atendimento em prazo oportuno, com o estabelecimento de prazos máximos para atendimento, foi o primeiro passo. Há de se ir além e assegurar que todas as etapas do processo de atenção à saúde, desde a prevenção, diagnóstico, tratamento, reabilitação, cuidados paliativos ou conclusão do tratamento se deem em prazo e qualidade adequados, com custo-efetividade, desfecho clínico compatível e, principalmente, com foco na satisfação e no bem-estar ou na melhor condição de saúde possível para o usuário.

Para que isto ocorra, é necessário rastrear e avaliar a jornada do paciente nas várias etapas do seu atendimento, com a definição de metas, prazos e indicadores que devem ser padronizados e divulgados de forma transparente.

A avaliação comparativa de fácil compreensão, com a divulgação das melhores práticas como referências a serem seguidas, pode: orientar as escolhas de usuários e de seus patrocinadores; instituir uma competição saudável na busca pela qualidade, segurança e custo-efetividade; reduzir a variabilidade de práticas e desfechos clínicos; avaliar a efetiva contribuição de cada agente do setor; ajudar a identificar o que é preciso corrigir ou incentivar, onde investir e que resultado se pretende alcançar.

Pode, por fim, ajudar a criar um ciclo virtuoso de busca pelo melhor valor para o usuário.

Mauricio Ceschin é médico e foi diretor-presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) entre 2009 e 2012.





Obrigado por comentar!
Erro!
Contato
+55 11 5561-6553
Av. Rouxinol, 84, cj. 92
Indianópolis - São Paulo/SP