Medicina personalizada é o futuro, mas há desafios
04/10/2019

Questões regulatórias, capacitação de médicos e acesso à população, além de o risco de a medicina de precisão gerar ainda mais custo à saúde estão entre as barreiras

A medicina personalizada – tratamento realizado conforme as características genéticas do paciente – é um caminho sem volta, mas para avançar no país ainda precisa enfrentar vários desafios, como questões regulatórias, capacitação de médicos e acesso à população. Além disso, há um risco de a medicina de precisão gerar ainda mais custo à saúde caso a sua adoção não seja bem planejada.

Essa é a opinião de representantes do setor que participaram do debate “Desafios da Saúde no Brasil”, realizado ontem pelo Valor em parceria com a empresa de medicina diagnóstica Hermes Pardini em São Paulo.

“Se a tecnologia não for direcionada, disciplinada com relação a custo e efetividade, substitutiva e não cumulativa, vira uma estrada sem fim”, disse Armando Fonseca, diretor científico do Hermes Pardini.

Na opinião de Patricia Ashton-Prolla, geneticista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), um horizonte com resultado econômico satisfatório depende também da capacitação dos médicos que vão conduzir o uso dessa tecnologia.

“Se eu entrego um resultado de teste genético para um paciente e ele não é orientado adequadamente sobre o que fazer com essa informação, de que adiantou ter usado essa tecnologia?”, questiona a médica.

Rogério Scarabel, diretor de normas e habilitação dos produtos da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), afirmou que a agência vem acompanhando de perto o custo e a efetividade da medicina de precisão. “Atualmente, há 50 procedimentos de medicina personalizada cobertos pelos planos de saúde. Para o novo rol, há cinco novas propostas que estamos analisando”, disse.

Segundo Patricia, outro ponto que precisa ser analisado com a expansão da medicina personalizada é a ausência de uma lei que tipifique a discriminação a portadores de doenças genéticas. “A pessoa não pode ser punida por ter identificado uma doença pré-determinada.” A médica reclama da falta de uma regulação que explique, por exemplo, se o prestador de serviço de saúde pode compartilhar uma informação sobre o paciente com familiares caso a descoberta genética gere riscos aos parentes.

Outro ponto abordado pelos especialistas é a falta de um banco de dados com informações genéticas da população brasileira. Muitos remédios e protocolos médicos são elaborados conforme as características da população europeia, onde há um banco de dados genéticos mais robusto.

“Países desenvolvidos estabeleceram políticas para sequenciar massivamente a sua população. Isso não foi de brincadeira, conhecer a população é muito importante para predizer. Tão mais preditivo é um teste genético quando você conhece a população em que o paciente está inserido, senão fica meio aleatório”, acrescenta Fonseca.

O custo de importação de insumos necessários para os procedimentos da medicina personalizada é outra barreira.
Assim como as informações de prontuário estão protegidas pelo sigilo médico, os especialistas destacam que o cuidado com os dados genéticos dos pacientes deve ser a tônica.

Scarabel diz que a questão da confidencialidade já está enraizada na prática médica brasileira. Ele lembra que a recente Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais ajuda a esclarecer pontos, como a exigência expressa de autorização do “dono” do dado para que ele seja processado.

Fonte: Valor




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