Novos exames aliados à medicina de precisão mudam a trajetória do câncer
07/10/2019

Alta tecnologia vem sendo aplicada para diagnósticos mais precisos e muda a vida de pacientes

Luziane Barbosa Mendes, de 34 anos, descreveu o dia que recebeu o diagnóstico de câncer como o pior de em que sua vida. Depois de descobrir um caroço no seio, ela passou por mamografia e biópsia até confirmar seu temor.

Começava ali uma trajetória de expectativa que acabou contando com uma aliada inesperada: a alta tecnologia.

Graças a um teste genético, descobriu que poderia simplificar o tratamento e evitar parte de suas consequências. — Eu ainda estava com medo. Principalmente da quimioterapia, de como isso iria afetar toda a minha família — conta ela, que se submeteu a um teste pioneiro, chamado EndoPredict, capaz de detectar a possibilidade de o câncer se espalhar para outro lugar do corpo em um prazo de dez anos e, com isso, recomendar o encaminhamento mais adequado para a paciente.

— Quando saiu o resultado, fiquei muito feliz. A indicação era um tratamento com injeções e radioterapia, que são bem menos agressivos.

Parte de um novo campo da ciência, chamado medicina de precisão (ou personalizada), o teste é oferecido com exclusividade pela GeneOne, laboratório de genômica da Dasa. A discussão desta e outras ferramentas que estão revolucionando o diagnóstico e o tratamento de doenças também foi destaque do evento realizado pela Dasa, no Rio de Janeiro. O público reunido no auditório acompanhou um estudo de caso do patologista Cristovam Scapulatempo e da radiologista Fernanda Philadelpho, ambos da Dasa; além de uma mesa-redonda com o oncologista José Bines, do Inca, e Afrânio Coelho, mastologista do Hospital Universitário Clementino Fraga.

Assim como no diagnóstico de Luziane, o caso apresentado pelo patologista e pela radiologista serve para exemplificar o salto qualitativo que a medicina tem dado com o avanço da genética. A paciente apresentada tinha 48 anos, sem histórico familiar de câncer de mama, quando procurou o médico para uma mamografia. Utilizando um software de inteligência artificial, o exame conseguiu detectar com precisão a área do tecido mamário em que havia uma alteração suspeita e facilitou a tarefa para a biópsia. Criado em parceria com a CureMetrix, o algoritmo é capaz de prever padrões que não são usuais da imagem gerada pela mamografia, e indicar a área onde o especialista deve investigar melhor. A ferramenta serve para aumentar a confiabilidade do exame, que é vital na detecção precoce do câncer de mama. Mesmo com treinamento adequado e experiência, o diagnóstico está sujeito a imprecisões humanas. — Por isso, com frequência adotamos a dupla leitura, feita por dois profissionais, que aumenta em 10% a chance de diagnóstico correto. Com o software, é possível substituir essa segunda análise — explica Fernanda, destacando o ganho de eficiência do método: — Conseguimos detectar o câncer mais precocemente, em alguns casos evitando biópsias desnecessárias. Mulheres com mamas densas (muito tecido mamário e pouca gordura), que costumam representar um desafio para o diagnóstico por imagem, também passaram a contar com mais um equipamento. Trata-se de um ultrassom automatizado que aumenta em até 35% a chance de detecção nesses casos.

 

Há ainda ferramentas de prognóstico online como o Predict Breast, do serviço de saúde do Reino Unido, que calculam as chances de eficácia dos tratamentos levando em conta o perfil da paciente e das lesões encontradas. O mastologista Afrânio Coelho também prevê um futuro mais esperançoso com a consolidação da medicina de precisão e de seu acesso por mais gente. — Vai proporcionar medicina à distância e leituras mais rápidas, e até diminuir métodos invasivos. Hoje, 80% das biópsias que a gente faz são benignas. Somos um país pobre, temos que focar no que é importante — defende. O EndoPredict é um teste genético que pode mudar o prognóstico da doença. No teste, são analisados 12 genes presentes no tecido tumoral relacionados à probabilidade de recidiva. O resultado é uma pontuação que indica se a chance é alta ou baixa. Em estudos clínicos, a quimioterapia foi evitada em 70% das pacientes com nódulos negativos.

— Apostamos muito nesse teste porque os resultados são dicotômicos, sim ou não, o que torna a decisão conjunta do médico e paciente mais fácil. Quando falamos em câncer, a agilidade é sempre um fator importante — diz o patologista Cristovam Scapulatempo.

É preciso destacar, no entanto, que o EndoPredict não é indicado para todo tipo de paciente. Ele funciona para pessoas recém-diagnosticadas, em estágio inicial, com positivo para receptores de estrogênio e negativo para a proteína HER2, ou seja, aqueles tumores que são ativados pelo estrogênio, mas não têm a presença dessa proteína específica. Esse tumor é considerado um dos mais prevalentes.

Para José Bines, todas essas novas armas (e outras que ainda virão) servem para direcionar melhor os esforços dos profissionais da saúde:

— O papel da tecnologia é fazer uma leitura inicial e selecionar os casos mais feijão com arroz. Com isso, o tempo do radiologista e do patologista pode ser dedicado a laudos mais rebuscados, em que a expertise deles seja mais requisitada — afirma.

Do lado dos pacientes, a tecnologia pode ser a esperança que estava faltando. Foi assim para Luziane, que mesmo enfrentando a luta contra o câncer tem mais confiança em sua recuperação graças à realização do exame genético e seu resultado.

— Ainda bem que hoje já temos esse tipo de tecnologia disponível. Pode parecer pouco para algumas pessoas, mas para mim foi um alívio. A quimioterapia era uma questão muito importante, não sabia como ia reagir. Chorei todos os dias até saber que não teria que passar por esse tratamento. Depois chorei de alegria.

Fonte: Anahp




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