Informação sobre câncer de mama avançado é questão de saúde pública
10/10/2019

É importante que campanhas mantenham foco no diagnóstico precoce, mas sem deixar de lado esclarecimentos sobre tumores metastáticos

Ano após ano, a campanha de conscientização sobre o câncer de mama, conhecida como Outubro Rosa, tem destacado a importância do diagnóstico precoce da doença. Há uma boa razão para isso: no Brasil, boa parte dos tumores é detectada em estágios avançados, o que eleva a mortalidade. Entretanto, é importante que as campanhas contemplem também as pacientes com câncer de mama metastático, cujos tratamentos estão evoluindo rapidamente nos últimos anos.

A metástase acontece quando as células cancerosas se espalham para além do tumor primário localizado nos tecidos mamários e linfonodos dessa região, atingindo outros órgãos, como os ossos, o pulmão, o fígado, o cérebro ou os ovários, por exemplo. Esse diagnóstico, no entanto, não representa mais uma sentença de morte iminente como há alguns anos, devido ao avanço dos recursos terapêuticos, de acordo com Ruffo Freitas-Junior, mastologista da Universidade Federal de Goiás e membro da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM). “Novas drogas estão sendo descobertas, e seu uso está modificando completamente a perspectiva das pacientes”, afirma. Dependendo do tipo de câncer e das novas drogas disponíveis, essas mulheres poderão ter uma vida longa e de qualidade.

Tamanho x tempo x tipo

As chances de que um câncer metastático seja detectado já no primeiro diagnóstico é de cerca de 7%, segundo estatísticas da SBM. Na maior parte dos casos, portanto, os tumores não são metastáticos; estão localizados apenas na mama. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), estima-se que 59,7 mil mulheres sejam diagnosticadas com câncer de mama no Brasil em 2019. A cada ano, em toda a América Latina, são diagnosticados 150 mil novos casos de câncer de mama metastático.

A possibilidade de haver metástase é avaliada no momento do diagnóstico, com base em três variáveis principais. O primeiro fator é o tamanho: os tumores menores têm muito mais chance de serem metastáticos. O segundo é o tempo de desenvolvimento da doença. E o terceiro é o tipo de tumor. “A questão da agressividade é o principal fator.” Segundo Freitas-Junior, a precisão no momento do diagnóstico é crucial para a eficácia da estratégia de tratamento.

 

Muito mais importante do que fazer uma cirurgia radical é ter um diagnóstico correto e definir as armas terapêuticas que serão empregadas, dentro de uma estratégia global de manejo do tumor, conduzida por uma equipe multidisciplinar.

No caso do câncer metastático, a associação das diferentes terapias – cirurgia, radioterapia, quimioterapia, terapia hormonal, terapia-alvo ou imunoterapia – é muito mais eficaz que o uso de uma só, como uma cirurgia agressiva. De acordo com Freitas-Junior, avanços tecnológicos tornaram a radioterapia mais segura, com menos efeitos colaterais.

 

Mas o aumento da sobrevida das pacientes de tumores de mama metastáticos decorre, sobretudo, do desenvolvimento de novos fármacos. “Nas décadas de 1970 e 1980, a mulher com câncer de mama metastático estava fadada a morrer nos cinco primeiros anos. Hoje, pelo menos 30% delas sobrevivem cinco anos e, dependendo do subgrupo do tumor, esse número pode chegar a 50% – algo inimaginável no passado”, afirma.

Os oncologistas dividem os tumores de mama em três subtipos principais. Um deles, conhecido como HER2, acomete mulheres com níveis altos da proteína HER2, ligada ao crescimento do tumor. O segundo é o tumor dependente de hormônio (estrogênio e progesterona). E o terceiro é o chamado “triplo negativo”, por não ter ligação com o fator de crescimento, nem com os dois hormônios. “Os mais frequentes são os tumores dependentes de hormônio, que têm sido tratados com grande sucesso com uma classe de drogas biológicas conhecida como inibidores de ciclina”, diz Freitas-Junior.

Já os tumores HER2, segundo ele, ocorrem em cerca de 20% das mulheres com câncer de mama. “Há tratamentos muito eficazes para eles, com anticorpos monoclonais. Os tumores mais agressivos, e que atingem cerca de 15% das pacientes, são os triplos negativos, para os quais a imunoterapia tem trazido os maiores benefícios, em especial nos tumores metastáticos.”

Novas drogas estão sendo descobertas, e seu uso está modificando completamente a perspectiva das pacientes” Ruffo Freitas-Junior, mastologista da Universidade Federal de Goiás e membro da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM)





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