Novembro Azul 2019: como se prevenir contra o câncer de próstata
06/11/2019

O ‘Estado’ conversou com dois especialistas sobre as principais formas de se prevenir contra o câncer de próstata, segundo mais frequente entre homens no Brasil

Com foco na prevenção e no diagnóstico precoce do câncer de próstata e, de forma mais ampla, na conscientização pelos cuidados com a saúde masculina, o Novembro Azul é um movimento que surgiu na Austrália em 2003 sob o nome de Movember — uma junção entre Mustache (bigode, em inglês) e November (novembro). Na época, a ideia da campanha era que os homens participantes deixassem o bigode crescer como forma de chamar a atenção para a causa. O mês de novembro foi escolhido em alusão ao Dia Mundial de Combate ao Câncer de Próstata, realizado no dia 17 de novembro.

Posteriormente, a campanha acabou se expandindo em relação aos temas contemplados e também aos países envolvidos. No Brasil, o Ministério da Saúde lançou páginas educativas como Câncer de próstata: causa, sintomas, tratamento e prevenção. Também envolvido com a causa, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) divulgou a cartilha Câncer de próstata: vamos falar sobre isso?, com informações para que a população entenda mais a respeito da doença.

De acordo com o Ministério da Saúde, 70% dos homens brasileiros só vão ao médico por influência da família. E a falta de procura por médico e check-up anual aumenta as chances de detecção de doenças em estágio avançado, como o câncer de próstata, do qual 20% dos casos são diagnosticados tardiamente e 25% dos pacientes morrem em decorrência da doença, segundo a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU). Em contrapartida, com a detecção precoce, as chances de cura chegam a 90%.

Com base nesses dados e na importância de se tratar do assunto, o Estado conversou com dois especialistas para abordar as principais dúvidas sobre o câncer de próstata:

O que é o câncer de próstata?

Segundo tipo de câncer mais comum entre homens no Brasil, o câncer de próstata está atrás apenas do câncer de pele não-melanoma, de acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer. Devido a isso, a conscientização em relação a ele e a outras doenças de próstata deve ser redobrada.

O câncer de próstata é uma doença na qual as células cancerígenas se desenvolvem na próstata, — glândula masculina do tamanho de uma noz que, localizada ao redor da uretra, gera um fluido que faz parte do sêmen. O câncer na região ocorre quando as células do corpo, no caso, as da próstata, se dividem irregular e incontrolavelmente. Com isso, como as novas células não são necessárias, uma massa de tecido chamada neoplasia ou tumor é formada.

De acordo com o coordenador do Centro Especializado em Urologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, doutor Carlo Passerotti, alguns dos tumores de próstata podem crescer de forma rápida, espalhando-se para outros órgãos e podendo levar à morte. A maioria, no entanto, se desenvolve lentamente e leva cerca de 15 anos para atingir 1 cm³.
Como se prevenir contra o câncer de próstata?

Quando o assunto é prevenção, no melhor dos cenários, pode-se tratar da prevenção primária, que consiste nas boas práticas para que as pessoas não desenvolvam a doença. Em meio a isso, por mais que as causas do surgimento câncer de próstata sejam um tanto nebulosas, duas boas dicas são manter uma alimentação balanceada e praticar exercícios físicos, fatores que contribuem com a saúde de forma geral.

Já com a prevenção secundária, que é aquela não evita a doença, mas que auxilia no diagnóstico rápido para seu combate, as dicas são um pouco mais amplas. Segundo dados do Global Cancer Observatory, um em cada nove homens no mundo tem câncer de próstata, enquanto um em cada nove morre por ele — principalmente devido aos maus cuidados com a saúde e ao diagnóstico tardio da doença.

De acordo com o doutor Stênio Zequi, líder do Centro de Referência em Tumores Urológicos e dos Programas de Cirurgia Robótica e Hifu do A.C.Camargo Cancer Center, cerca 90% dos homens com câncer não sabem que têm a doença até que chegue a um estágio avançado, o que aumenta os casos de morte.

Em meio a isso, as principais recomendações são que, a partir dos 50 anos de idade, os homens passem pelos exames de toque retal e de sangue de antígeno prostático específico (PSA, na sigla em inglês) para detectar a presença de câncer de próstata. Esse acompanhamento deve começar ainda mais cedo se os pacientes são negros, e/ou se tiveram casos de câncer de próstata em parentes próximos, como pai ou irmãos.

De acordo com Carlo Passerotti, é importante destacar que ainda que o teste de PSA seja útil para o diagnóstico, o câncer de próstata está presente em 15% dos homens com níveis normais do antígeno. Com isso, para se ter uma análise completa do caso, é importante o exame de toque retal e biópsia da próstata.

Em resumo, os seguintes fatores aumentam a probabilidade de desenvolver câncer de próstata e devem ser informados aos médicos:

Idade: 55 anos ou mais;

Histórico familiar de câncer de próstata, especialmente pelo pai ou algum irmão;

Histórico familiar de câncer de próstata diagnosticado em tenra idade;

Dietas ricas em gordura.

Quais são os principais sintomas da doença?

Por crescer na parte externa da próstata, o tumor desse tipo de câncer praticamente não dá sintomas, destaca Stênio Zequi. Ainda assim, à medida que a doença avança, é possível identificar alguns sinais que podem indicar desde o câncer de próstata até a hiperplasia benigna da próstata (HBP) ou algum tipo infecção. Veja baixo:

Necessidade de urinar com frequência, especialmente à noite;

Dificuldade e/ou dor ao urinar;

Fluxo de urina fraco ou interrompido;

Dificuldade em ter uma ereção;

Ejaculação dolorosa;

Sangue na urina ou no sêmen;

Dor freqüente ou rigidez na parte inferior das costas, quadris ou coxas.

A partir desses sintomas, os médicos podem realizar os seguintes testes:

Exame retal: exame do reto em que o médico, usando uma luva, insere um dedo no reto;

Exame de urina: para detectar sangue ou infecção;

Exame de sangue: para medir o antígeno específico da próstata (PSA) e a fosfatase ácida prostática (FAP).

Além de outros exames para obter mais informações sobre a causa dos sintomas:

Ultrassonografia transretal: estudo que emite ondas sonoras e uma sonda que é inserida no reto para detectar tumores;

Pielograma intravenoso: série de radiografias dos órgãos do trato urinário;

Cistoscopia: exame de uretra e bexiga através de uma cânula fina e iluminada;

Biópsia: remoção de uma amostra de tecido prostático para detectar se as células cancerígenas estão presentes.

Ainda sem as sensações específicas, pelo fato do câncer de próstata ser uma doença que, por vezes, não apresenta sintomas, o check-up masculino é imprescindível para prevenção. “Ainda que 80% dos casos sejam, de fato, lentos, cerca de 15% a 20% das pessoas têm um câncer de próstata mais agressivo, que pode levar de 3 a 5 anos para chegar a um estágio avançado e aumenta a importância dos exames”, ressalta o Carlo Passerotti.

De que forma se dá o tratamento do câncer de próstata?

A partir do momento em que o câncer de próstata é encontrado, os primeiros testes são feitos para ver se o câncer se espalhou e, em caso afirmativo, para determinar a extensão dessa propagação. Por consequência, o tratamento depende do grau de disseminação da doença e depende da consulta de um médico oncologista. Em meio a isso, algumas das principais opções de tratamento são:

Cirurgia: envolve a remoção do tumor cancerígeno, dos tecidos próximos e, possivelmente, dos gânglios linfáticos próximos. Essa opção é oferecida a pacientes com bom estado de saúde e com menos de 70 anos de idade;

Radioterapia: uso de radiação para matar as células cancerígenas e reduzir os tumores. Pode ser feito de forma externa, com uma fonte emitindo radiação ao corpo do lado de fora, ou de maneira interna, por meio de materiais radioativos inseridos dentro do corpo;

Hormonoterapia: usada em pacientes cujo câncer de próstata se espalhou em outro lugar ou é recorrente após o tratamento. O objetivo da terapia hormonal é diminuir os níveis de andrógenos (hormônios masculinos) e consequentemente minimizar sua influência no corpo. O principal tipo de andrógeno é a testosterona;

Quimioterapia: talvez o mais famoso dos tratamentos de câncer, a quimioterapia é o uso de drogas para matar células cancerígenas e pode ser administrada de várias formas, incluindo comprimidos, injeções e por tubo. A droga entra na corrente sanguínea e percorre o corpo, eliminando não só as células cancerígenas, mas também algumas células saudáveis;

Terapia biológica: uso de medicamentos ou substâncias geradas pelo corpo para aumentar ou restaurar as defesas naturais do corpo contra o câncer. É também chamado de terapia modificadora da resposta biológica;

Ultrassom concentrado de alta intensidade: realizado por meio de uma sonda endorretal que faz ultrassom (ondas sonoras de alta energia), o tratamento pode destruir as células cancerígenas.

Além dessas opções, de acordo com Stênio Zequi, cada vez mais técnicas de robótica que visam reduzir as sequelas do paciente têm sido utilizadas. “São vários tratamentos e cada vez mais modernos. Evidentemente, não existem tratamentos sem consequência, já que todos geram efeitos em menor ou maior grau, mas estamos caminhando para uma redução importante dos efeitos colaterais”, diz.

Outro ponto destacado é que, para máximo benefício dos pacientes, os tratamentos podem ser combinados em uma frente multidisciplinar, com cirurgia associada à radioterapia, ultrassom seguido de hormonoterapia, entre outras combinações. “É importante lembrar que o câncer do ‘Seu João’ não é o mesmo que o do ‘Seu José’”, conclui.





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