Cadeia da saúde emite 4,4% dos gases-estufa
12/11/2019
Se o setor de saúde global fosse um país, seria o quinto maior emissor de gases-estufa do mundo, com participação de 4,4% do volume mundial. É mais do que emite o Japão ou o Brasil. Cerca de 70% das emissões do setor são produzidas na cadeia de suprimentos - na produção, transporte e descarte dos bens e serviços.
 
Os dados fazem parte de um estudo produzido pela ong internacional Health Care Without Harm (HCWH). Os EUA respondem pela maior parcela - com 27% das emissões globais. Um americano emite per capita 57 vezes mais do que um indiano. O estudo considerou emissões do setor de saúde de 43 países desenvolvidos e emergentes e foi divulgado ontem durante o 12º seminário sobre Hospitais Saudáveis, em São Paulo.
 
“Todos sabem que a crise climática está se agravando”, disse, em videoconferência, Josh Karliner, diretor internacional de programa e estratégia do HCWH. “Mas o nosso sistema de saúde está despreparado para as emergências climáticas.”
 
Karliner ilustrou sua fala com foto de recente inundação na Índia, feita à frente de um hospital - os pacientes foram retirados em botes e protegidos da chuva por plásticos negros. Na Califórnia, seguiu, dois hospitais foram evacuados em função dos incêndios florestais que ocorrem na região.
 
“Temos que transformar o setor de saúde contaminando e emitindo menos. E também tornando-o mais resiliente para enfrentarmos os desastres ambientais”, disse Rosemary Kumwenda, líder da equipe de HIV, saúde e desenvolvimento do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) na Europa e na Ásia Central.
 
“Quem trabalha com saúde deveria proteger o planeta”, seguiu ela. “Temos que ser líderes e transformar o mercado.”
 
“Fizemos um desserviço ao planeta nas últimas décadas”, concordou a especialista em saúde pública Susan Wilburn, diretora de sustentabilidade da Rede Global Hospitais Verdes (Global Green and Healthy Hospitals), referindo-se à humanidade.
 
Susan lembrou um estudo de 2016 feito pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que indicava que 25% das doenças globais tinha origem em fatores ambientais. A devastação e a contaminação do meio ambiente provocam mais de 12,5 milhões de mortes ao ano, segundo a entidade.
 
As iniciativas do programa do PNUD em dar mais sustentabilidade ao setor de saúde e da rede global por Hospitais Saudáveis tem quatro objetivos claros: reduzir a emissão de gases de efeito estufa no setor, substituir o uso de produtos químicos perigosos (para os trabalhadores e para o meio ambiente), promover energias renováveis e reduzir a pressão sobre os recursos naturais.
 
A Inglaterra, por exemplo, vem medindo regularmente a pegada de carbono em seu sistema nacional de saúde. Responde por 26% das emissões do setor público inglês, emitindo 18 milhões de toneladas de CO2 ao ano. “A maior parte das emissões vêm da cadeia de fornecedores”, diz. O primeiro passo é medir e monitorar as emissões.
 
“Nossa missão é transformar o setor”, disse Vital de Oliveira Ribeiro Filho, arquiteto do Centro de Vigilância Sanitária da Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo e presidente do conselho do Projeto Hospitais Saudáveis de São Paulo. Combater a mudança do clima é o eixo que agrega as iniciativas do setor, que vão, contudo, muito além da emergência climática.
 
Ribeiro Filho lembrou que 70% dos brasileiros são atendidos pelo Sistema Único de Saúde, o SUS. “Imagine o poder de compra do SUS”, disse. “Infelizmente, a compra não é integrada. Cada unidade faz seus editais e compra separadamente”. Registrou que São Paulo foi o primeiro Estado a proibir, em 2010, a compra de termômetros com mercúrio.
 
Outro esforço para tornar o setor de saúde sustentável está em reduzir drasticamente o uso de plásticos, principalmente os descartáveis e os de PVC. Alguns gases anestésicos estão sendo substituídos por outros, com potencial menos emissor. O uso excessivo de água vem sendo combatido, assim como a substituição de desinfetantes por produtos menos tóxicos. “Temos que dar foco nos processos internos”, diz Ribeiro Filho.
 
 
 
Fonte: Valor




Obrigado por comentar!
Erro!
Contato
+55 11 5561-6553
Av. Rouxinol, 84, cj. 92
Indianópolis - São Paulo/SP