Há um Brasil desconhecido. Um Brasil que não se atenta para a sua própria saúde. Um número assustador de 170 milhões de pessoas, aproximadamente, que não possuem nenhum plano de saúde e, para quem o acesso a um médico ou mesmo a um tratamento da rede pública, pode demorar meses. Destaco que não estamos falando de qualidade de tratamento, mas das dificuldades em ter acesso a algum tipo de especialidade.
Precisamos ter consciência que promover a saúde é um dever do Estado e, mais do que um direito do cidadão, um dever de cada indivíduo e por isso há uma necessidade grande em desatar o nó em que nos enfiamos, quando tratamos da adoção da telemedicina no Brasil.
Na China, onde o número de pessoas ultrapassa a casa dos 1,3 bilhões, há soluções simples e a telemedicina é uma delas, altamente praticada. Por exemplo, a empresa Ping An Good Doctor lançou uma plataforma de assistência médica com inteligência artificial que vai desde consultas até entrega de medicamentos em casa e atende mais de 260 milhões de pacientes no país. A mesma empresa recentemente apresentou minilaboratórios para diagnóstico expresso – as clínicas de um minuto. O paciente entra num compartimento individual, semelhante às cabines fotográficas, descreve os sintomas para um médico digital que faz a triagem e encaminha para uma teleconsulta com um especialista. Consultado e diagnosticado, o paciente pode adquirir ali mesmo os remédios e começar o tratamento.
Toda a nova tecnologia que promove o acesso a serviços, antes restritos a uma parcela da população, gera polêmica e questionamentos fazem parte do processo de mudança que precisa ser entendido por órgãos reguladores e prestadores de serviço, e levado também para os consumidores, para que os possíveis beneficiários possam avaliar.
Telemedicina para promover a saúde do brasileiro
Em janeiro, a Universidade de Bath, no Reino Unido, anunciou que cientistas desenvolveram um exame rápido que conseguia diagnosticar infecções urinárias com mais agilidade. O exame era semelhante aos testes de gravidez e é realizado por um dispositivo que utiliza uma câmera de smartphone capaz de identificar a presença de determinada bactéria em uma amostra de urina e o resultado é conhecido em até 30 minutos.
Isso é outro exemplo do que o avanço das tecnologias de comunicação e informação é capaz de fazer pela humanidade e, se abster de utilizar os benefícios que esses avanços podem promover, é no mínimo leviandade e falta de compromisso social. Com a promoção e autorização do uso da telemedicina poderemos ganhar e melhorar a qualidade de vida nos mais distantes rincões do Brasil, lugares onde muita gente não sabe o que existe em termos de facilidade para os cuidados com a saúde. Imagina o uso da telemedicina em estados como Amazonas e Pará, onde só se consegue atingir localidades por intermédio de barcos e o acesso à saúde é precário.
Se nos grandes centros, em uma capital como São Paulo, o tempo médio de agendamento de consulta no SUS, em 2018, era de 85 dias, como agir em localidades como Amazonas e Pará?
Já que falamos sobre Amazonas, um exemplo que está dando certo foi anunciado no final do primeiro semestre do ano passado. Foi criado o Projeto Regula+Brasil com a finalidade de fortalecer e agilizar o atendimento na Rede Básica e reduzir o tempo de espera no SUS daquele Estado.
O projeto faz parte da integração do poder público com o setor privado e vai ajudar o paciente que precisar de atendimento especializado a passar por uma avaliação feita por uma equipe de médicos. Os profissionais participam do núcleo remoto de regulação e, de forma integrada, de uma rede de Telemedicina e avaliam, com bases em protocolos, o caso do paciente. O objetivo é de acelerar o processo de direcionamento aos ambulatórios especializados.
Há pesquisas do Conselho Federal de Medicina que apontam que a população brasileira chega a esperar até seis meses para agendar uma consulta ou exame com especialistas no Sistema Único de Saúde (SUS). O mesmo período poderia ser aproveitado para a descoberta e tratamento de muitas doenças, evitando assim gastos futuros desnecessários aos cofres públicos. Isso é integração de tecnologias e uso inteligente dos recursos disponíveis, é benéfico para o governo e para a população. Isso é inteligência.
A prevenção é a melhor forma de cuidar da saúde. Iniciativas como a telemedicina surgem como uma ferramenta de diagnóstico rápido e versátil em nossa sociedade.