Com isolamento frágil, mortes no Brasil já chegam a 8.536
07/05/2020
A disseminação acelerada do novo coronavírus no Brasil é resultado da combinação das decisões do governo federal, medidas de confinamento pouco rigorosas e das limitações do sistema de saúde brasileiro, segundo especialistas. Ontem, o número de mortes registradas foi de 615, levando o acumulado total a 8.536. Com isso, o Brasil tem o sexto maior número de óbitos do mundo, segundo a Universidade Johns Hopkins. Os casos da doença já chegam a 125.218.
 
“Olhando a experiência internacional, a aceleração das mortes tem a ver com o posicionamento do governo e com a estrutura e a organização do sistema de saúde”, diz Adriano Massuda, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) e pesquisador visitante no Departamento de Saúde Global e Populações da Escola de Saúde Pública de Harvard.
 
Apesar das limitações do Sistema Único de Saúde (SUS), iniciativas complementares poderiam diminuir o impacto da doença. “Mesmo não tendo uma infraestrutura eficiente para oferecer testes, poderíamos ter técnicos e agentes comunitários para fazer ações de diagnóstico precoce e isolamento”, disse ontem em debate da FGV e da agência Bori.
 
Também presente no debate, Ana Maria Malik, coordenadora do FGV-Saúde, afirmou que um dos pontos mais preocupantes na disseminação da doença é a grande circulação de pessoas apesar da quarentena. “O que precisamos mesmo é de mais isolamento social”, disse.
 
Uma das idealizadoras do SUS, Ana Maria lembrou que o momento é distanciamento do Brasil de entidades como a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), braço Organização Mundial de Saúde (OMS). “A cooperação internacional até existe, temos conhecimento do que está ocorrendo em outros países. A questão é que os tomadores de decisão usarão o conhecimento para o que for mais conveniente.”
 
Estudo do Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde (Nois) confirma que o Brasil está entre os países mais afetados pela covid-19. A análise comparou o país com outras 39 nações durante 21 dias. O marco inicial foi o momento em que todos atingiram 50 casos da doença, e o período analisado foi entre os dias 33 e 53 da pandemia. São dados atualizados até 4 de maio.
 
No dia 33 da pandemia, a mediana nos países analisados mostrou aumento de 4,3% de novos casos ao dia, percentual que caiu para 1,6% depois de 21 dias. Nos mesmos intervalos, o Brasil teve altas de 7,8% e 6,7%, mostra o estudo, realizado por pesquisadores da PUC-Rio, Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
 
De 25 a 30 de março, o país liderou a taxa de crescimento de contaminações e, nos 21 dias do levantamento, a alta oscilou em torno de 7%. “Isso indica que o Brasil e suas regiões ainda não atingiram o pico”, diz o estudo.
 
A mesma tendência ocorre entre os óbitos. Foram analisados 30 países a partir da marca de 50 falecimentos. Em todo o período, o Brasil mostrou taxa de crescimento de óbitos acima de 75% da amostra, liderando o aumento em diversas ocasiões, como nos dias 16, 17 e 28 de abril.
 
 
 
 
Fonte: Valor




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