Plano de lançamento de vacina russa cria temor de mutação do coronavírus
21/08/2020

O plano da Rússia de lançar sua vacina contra o novo coronavírus, a “Sputnik V“, mesmo antes de testes completos sobre a sua eficácia, está causando preocupação em especialistas em vírus, que alertam que uma vacina parcialmente eficiente pode induzir a covid-19 a passar por uma mutação.

Sabe-se que os vírus, inclusive o pandêmico SARS-CoV-2, têm a capacidade de passar por mutações o tempo todo, e muitas vezes isto tem pouco ou nenhum impacto no risco que representam às pessoas. Mas alguns cientistas temem que acrescentar uma “pressão evolucionária” ao patógeno, recorrendo ao que pode não ser uma vacina totalmente eficiente, pode piorar o quadro.

“Menos do que uma proteção completa poderia proporcionar uma pressão seletiva que leva o vírus a escapar de qualquer anticorpo que exista, criando linhagens que depois escapam de todas as reações a vacinas”, disse Ian Jones, professor de virologia da Universidade Reading, no Reino Unido. “Neste sentido, uma vacina ruim é pior do que nenhuma vacina.”

Os desenvolvedores da Sputnik V, assim como patrocinadores financeiros e as autoridades russas, dizem que a vacina é segura e que dois meses de testes de pequena escala em humanos mostraram que ela funciona.

Mas os resultados destes testes não foram publicados, e muitos cientistas ocidentais estão céticos, desaconselhando seu uso até que a vacina passe por todos os testes aprovados internacionalmente e todas as etapas regulatórias.

Na quinta-feira, 20, a Rússia disse que planeja iniciar um teste de larga escala de eficiência da vacina em um total de 40 mil pessoas, mas também começará a administrá-la a pessoas de grupos de risco alto, como profissionais de saúde, antes de o teste ter produzido qualquer resultado.

“É preciso ter certeza de que a vacina é eficiente. Na verdade não sabemos isso (a respeito da Sputnik)”, disse Kathryn Edwards, professora de pediatria e especialista em vacina da divisão de doenças infecciosas da Escola de Medicina da Universidade Vanderbilt, nos Estados Unidos.

 

Edwards acredita que o risco do que uma vacina pode fazer com um vírus, seja combatê-lo, bloqueá-lo ou forçá-lo a se adaptar, é “sempre uma preocupação”.

Dan Barouch, especialista do Centro Médico Diaconisa Beth Israel de Harvard, na cidade norte-americana de Boston, observou que as taxas de mutação dos coronavírus são muito mais baixas do que as de vírus como o HIV, mas acrescentou: “Existem muitas desvantagens em potencial de se usar uma vacina que não funciona. O risco de ele (vírus) passar por uma mutação é um risco teórico”.

A vacina russa é baseada no adenovírus humano fundido com a espícula de proteína em formato de coroa que dá nome ao coronavírus.

 

É por meio dessa espícula de proteína que o vírus se prende às células humanas e injeta seu material genético para se replicar até causar a apoptose, a morte celular, e, então, partir para a próxima vítima.

Especialistas em saúde pública seguem prevendo as vacinas para meados de 2021.

De acordo com o relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) do dia 20 de agosto, 30 vacinas estão em fase de testes e outras 139 estão em desenvolvimento. Das 26 em testes clínicos, 6 estão na última fase. A vacina da Rússia consta como em fase 1 de testes.

A corrida pela cura

Nunca antes foi feito um esforço tão grande para a produção de uma vacina em um prazo tão curto — algumas empresas prometem que até o final do ano ou no máximo no início de 2021 já serão capazes de entregá-la para os países. A vacina do Ebola, considerada uma das mais rápidas em termos de produção, demorou cinco anos para ficar pronta e foi aprovada para uso nos Estados Unidos, por exemplo, somente no ano passado.

Uma pesquisa aponta que as chances de prováveis candidatas para uma vacina dar certo é de 6 a cada 100 e a produção pode levar até 10,7 anos. Para a covid-19, as farmacêuticas e companhias em geral estão literalmente correndo atrás de uma solução rápida.

Nenhum medicamento ou vacina contra a covid-19 foi aprovado até o momento para uso regular, de modo que todos os tratamentos são considerados experimentais.

Fonte: Exame




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