Febre amarela: 'fake news' confundem profissionais da saúde e alguns pacientes ficam sem a vacina, avaliam especialistas
06/04/2018
Algumas pessoas que deveriam ser vacinadas contra a febre amarela estão sendo enviadas para casa sem motivo, avaliam especialistas. Diabéticos, por exemplo, e pacientes com HIV em tratamento acabam ficando sem o imunizante quando não estão em risco aumentado para o desenvolvimento de reações adversas.

De modo geral, a vacina da febre amarela é indicada para todos entre seis meses e 59 anos de idade, mas as excessões à vacina não são simples de serem estabelecidas e podem confundir profissionais. Soma-se a isso o fato de que as notícias falsas também atingem profissionais de saúde, que acabam ficando ainda mais confusos sobre as indicações.

Para evitar essas e outras confusões, cinco entidades decidiram lançar um roteiro didático nesta sexta-feira (6) para que profissionais se informem sobre as contraindicações da vacina.

Por exemplo, pacientes que fizeram quimioterapia podem tomar a vacina se já faz três meses do tratamento. Mulheres que estão amamentando também podem ser vacinadas se a criança tem mais de seis meses. Há muitos outros detalhes que podem ser controversos (ver abaixo).

"Foi uma adaptação de informações que já existem. A gente percebeu que muitas delas não estão chegando aos profissionais de forma fácil e tem muita gente confusa", diz Isabela Ballalai, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações.

"O objetivo é evitar a má-informação que está sendo circulando. Muito do que corre na 'boca do povo' não está adequado", diz Marta Heloísa Lopes, professora de doenças infecciosas da Faculdade de Medicina USP, que ajudou na elaboração do roteiro.

Participaram da redação do roteiro a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), a Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT), a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), a Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR) e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

Na avaliação de Isabela Ballalai, a profusão de notíciais falsas também está abalando profissionais de saúde, com um círculo de contraindicações da vacina sem necessidade.

"As fakenews sobre reações também afetam profissionais de saúde, que acabam sendo conservadores com situações desnecessárias", diz a especialista. "A pessoa que aplica a vacina diz não. E o paciente vai a um médico que, sem informação e com dúvidas, acaba dizendo não novamente", afirma.

O roteiro inclui perguntas e respostas e orientações sobre quais medidas tomar em cada situação. A maior parte do texto detalha condições em pessoas com problemas de imunidade. Essas pessoas, em alguns casos, podem desenvolver reações, já que a vacina da febre amarela contém um vírus vivo, embora mais fraco.

"As contraindicações existem para qualquer medicamento. Também há recomendações parecidas para outras vacinas que trabalham com vírus vivo, como a do sarampo, por exemplo", diz Ballalai.

Marta Heloísa, da USP, também indica que não são todos as pessoas com problemas de imunidade que não devem tomar a vacina. Ela aponta que, na dúvida, profissionais de saúde encaminhem pacientes para os CRIS (Centro de Referência em Imunobiológicos) para que recebam atendimento adequado e mais especializado para cada condição.

" Algumas dessas pessoas não podem receber a dose fracionada. Também não são todos os idosos que não podem tomar a vacina. Se esse idoso está saudável, não tem motivo", avalia a infectologista.

Confira as informações do roteiro:

1. Está utilizando alguns destes medicamentos:
Infliximabe, etanercepte, golimumabe, certolizumabe, abatacept, belimumabe, ustequinumabe, canaquinumabe, tocilizumabe, secuquinumabe, natalizumabe, vedolizumabe, medicamentos vepletores de células B, ciclofosfamida, ciclosporina, tracolimus, azatioprina, micofenolato, tofacitinibe?

Sim - Não tomar a vacina e procurar avaliação médica.

2 - Já apresentou reação de hipersensibilidade grave a algum componente da vacina ou alergia grave comprovada ao ovo?
Sim – Não vacinar.

3 - Tem história pregressa de doença do timo (miastenia gravis, timoma)?
Sim - Não vacinar.

4 - É portador de doença autoimune, como lúpus, doença de Addison e artrite reumatoide?

Sim - Não vacinar e encaminhar para avaliação médica.

5 - Vive com HIV/Aids?
Sim - Vacinar quando em tratamento e com contagem de CD4 maior a 350 células por mm3 de sangue

Não vacinar quando não há tratamento ou quanto a contagem de CD4 for inferior a 350 células por mm3 de sangue.

6 - Está ou esteve fazendo tratamento de quimioterapia venosa ou oral?
Nos últimos três meses, não vacinar.

Há mais de três meses, vacinar.

7 - Fez uso de medicamento anti-célulaB (como Rituximabe) e Fludarabina?
Nos últimos seis meses, contraindicar a vacina.

Há mais de seis meses: vacinar.

8 - Está realizando radioterapia no momento atual?
Sim - Contraindicar a vacina

Não – Vacinar

9. Faz uso de corticoide oral em dose considerada alta (acima de 2mg/Kg/dia ou acima de 20mg/dia) por mais de 15 dias?
Sim – Contraindicar avacina e orientar que, após a interrupção do corticoide nasdoses relatadas acima, aguardarpor 4semanasantesdevacinar.

Não – Vacinar

10 - Foi submetido a Transplante de Célula Progenitora da Medula Óssea (TCPMO) nos últimos 24 meses?
Sim – Contraindicar a vacina

Não - Vacinar

11. Em caso afirmativo de (TCPMO), após 24 meses, houve recaída?
Sim - Contraindicar a vacina

Não – Vacinar

12 - Apresenta Síndrome Mieloproliferativa Crônica?
SIM – Administrar a vacina se a doença estiver estável

13 - Apresenta doença falciforme?
Sim, sem uso de hidroxiureia — administrar a vacina

Sim, em uso de hidroxiureia — administrar a vacina somente se a contagem de neutrófilos for superior a 1500 céls/mm³.

14 - Apresenta hemofilia ou outras doenças hemorrágicas hereditárias?
Pode ser administrada a vacina. Recomenda-se o uso de gelo antes e depois da aplicação.

15 - Está amamentando?
Sim - crianças com mais de seis meses de vida, vacinar. Em crianças menores de seis meses, avaliar risco epidemiológico (como o local próximo).
Fonte: G1




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